"Tua dor temperará o sabor de tudo que aspiras"

SEU ENDEREÇO

Confesso sim.
Te desejo, não sempre
Mas por momentos diversos
Em tempos perdidos
Deixei de ser tão espontânea
Confesso
Eu confesso
Que lhe quero meu
Mesmo sabendo
Que no temor
Que tu finges não ter
Firmezas não tem, igual
Para me pertencer um pouco
Assim

Dispenso
Em nome de sua resistência
O tintim por tintim
Aceito o ocasional que desejas
Ou vamos então
Nessa valsa doida
De bem me quer
Mal me quer
Meu amigo
Sua amiga?
Ah! Só porque queres

Circo


Quando criança queria construir um circo no porão de minha casa.
Minha casa não tinha porão e eu nem sabia que porão tinha esse nome, mas eu sabia que queria cavocar um buraco em frente a porta da sala.
Apresentei, então, o meu projeto ao meu vizinho pedreiro que se prontificou no mesmo instante. Logo vi que meu vizinho pedreiro era um homem de visão e uns vinte anos depois também vi que adultos sempre dizem sim em prol aos nossos sonhos quando a gente nem sabe que eles apenas os são e quando por um instante se permitem também serem tocadose levados a um universo que até os 6 ou 7 dominamos soberanamente.
Na entrada uma cortina de duas folhas azuis e bordas douradas, que tapavam tudo, mesnos o intencional mistério. Algumas luzes que permitissem apreciar o colorido no caminho que levava ao picadeiro.
Iria cobrar alguns cruzeiros pela entrada e convocar o exercito de coleguinhas da rua para usar como meus macaquinhos de circo. Não pretendia pagá-los porque assim como seria uma imenso prazer criar, gerenciar e participar dessa palhaçada sempre acreditei que não havia maior pagamento do que eu permitir que a molecada pudesse sentir o mesmo que eu.
Nunca aprendi a virar estrela e sinceramente não sei bem o que eu faria dentro do meu próprio circo, mas sempre fui fascinada por cores fortes , maquiagem, trapézios....apesar do meu medo de altura, descoordenação para malabares...Ou seja uma circence nata! Uma verdadeira palhaça!
Não, não costruí o circo de cortinas azuis e douradas. Os meus coleguinhas já nem sei onde estão.
Mas se eu encontrar por aí uma criancinhas assim, com esses sonhos ou outros sonhos seus, estou pronta pra cavocar e cavacar e cavocar.

Toc Toc

Toc Toc
- Quem?
- Eu!
- Faz o que aqui?
- Ah! Tudo bem, então vou-me já.
- Hora, hora...deixe de manha! Entre e se sente aqui, ao meu lado...está frio...e sabe, sempre penso que o frio é par, assim, o verão deve ser ímpar, porque ninguém quer pertencer, a não ser a si e seus prazeres...hora, hora...como eu falo e sempre demais! Puxe o cobertor e aprochegue-se que o filme é ótimo!
Na hora em que o vilão rasgou a blusa de renda e de cor crua da mocinha, apertando o seus peitinhos a seu contra gosto ou a contra gosto do desejo que sentia sem querer, um desconforto o tomou.
"Logo agora! Eu tinha tanto a dizer a ela. Se ela soubesse o calor que sinto sob esse cobertor...quanto ardor, quanto ardor..."
- Uau! - Disse ela...
- Pornô?
- Não. Ficção...
"Ficçada estás tu em meu pensamento desde o nosso primeiro momento. Mas como lhe dizer que te quero só agora. Que lhe desejo como num verão. Mas inteira. Como lhe dizer que não quero lhe querer depois? Às favas!! Sou mais você nua sobre esse tapete e sob mim...mas também quero outras, apesar de te querer tão...tão..."
- Não está gostando né?
- De quê?
- Ué! Do filme! Parece longe, entediado...não seja chato...
"Chata és tu que não me devoras hoje, amanhã e depois...não percebe que é diferente das outras? Que lhe evito, pois me excito só com o pensamento do cheiro teu, com a lembraça de tua pele, tua boca, tua roupa que arranquei com os dentes...você não se lembra? Não se sente como eu?!
- Você está quieto.
- É, estou prestando atenção no filme. Bom! Realmente muito bom...
- Quem bom.
"Como sou tola! Fingir indiferença enquanto ele é indiferente tão honestamente..."

Pontadas


Pimenta
Sustenta essa quentura
No gogó
Queima
Enquanto se queima
Se sente
Se mente banal.

Salpica no estômago
Debruça esquálido
Pálido
Mas normal baby
Tudo é normal
Como sua cara blasé
Sei lá o quê.

Fingido
Comido
Boçal
Eu bololô?
Você meu amô
Minha gastrite.

Dura e Doce


Suspiro

Suspiro

Suspiro

Quebro

Bato

Adocico

Queimo

E endureço

Suspirando

Até que

Por distração

Uma formiga

Me devore

E lá se foi

O último grão



Noite

A noite começou e era uma pândega.
Gostei.
Nem tanto.
Esbarros não são toques.
Os arranhões não são marcas.
Não as desejáveis. Nem indesejáveis. Na verdade, nada.
Os susurros eram tantos, mas nem sei se eram para alguém ou para mim.
Sempre penso que para todo mundo e para ninguém, roda, roda de 0 a 360. Igual.
Meu ego não permite prazer com tamanho disparate.
Observo tudo ao mesmo tempo, mas não com tempo suficiente, para me lembrar depois.
Nem tempo suficiente para tornar meu alvo consciente de sua existência como tal. Nenhum deles. Mas, ironicamente, às vezes os que não são, são.
A noite é barata. Mas meu flerte é mais.
Barato, preguiçoso e desqualificado.
E eu, adepta aos sassaricos mentais, sempre peco por querer demais.
Quero esse, esse e aquele. E isso também!
A noite acaba.
Volto pra casa sem ninguém.
E o colchão, de solteiro, de repente é king size.
Chacoteia, boemia, chacoteia.

Oração ao Bom Humor


Que meu sorriso pareça espontâneo

Quanto eu tiver de ser falsa

A não ser que eu não queira que seja assim

E que se isso não for possível

Haja bastante fumaça de cigarro para remediar

A minha sofrível performance cênica



Que o entusiasmo

Afogue todo o tédio

Num barril de espumante

Caipirinha

Tequila

Ou qualquer viagem barata

Que dispense passaporte e mais de duas cifras

No meu cartão de crédito



Que a alegria alheia

Não me cause pontadas no estômago

Por não ser eu a mais feliz

Que meu ego não seja mais representativo

Que uma bola de sorvete de morango

Deliciada sob um sol de 40º graus



Que minha sensibilidade

Me permita ser menos dura

E mais vulnerável e ridícula

Mais do que sempre desejei



Desejo também

Ter mais e mais desejos

Por você

Por mim

E desejo realizar a maioria

Dos que me arrancam

Aquele sorriso de canto e quase sem perceber



E que alguém esteja sempre disposto

A pegar meu nariz de palhaço

Quando na embriaguez da vida

Ele for ao chão

E que entre trapezistas

Malabaristas

Leões

Mulheres barbadas

Meu lugar sob essa lona gigante

Vida

Quando não for seu

Seja pelo menos um pouco meu

Amém.

Ideologias a R$ 1,99


"E então eu acordei pensando o quanto é bom ser livre.
Fiquei confusa quando pensei que minha liberdade (conceitual) tomou conta de mim num tanto que quando me vi mudando de opinião, jaz! Nela, eu, aprisionada...
E então me auto-flagelei, fingindo indiferença...pois livre sou e Deus me livre de mim, quando não for mais tão solta assim...
Quando fui dormir, mais leve e de volta às minhas ideologias que, a cada respirar e expirar, me permitem ser não mais do que EU, essencialmente EU, afanei o travesseiro, me estirei, mas não sem antes, audaz, deixar o cadeado da minha gaiola entreaberto..."

Eu e a outra (eu também)

"Em certo momento, no entanto, ao ser questionada sobre suas lágrimas, se são de alegria ou de tristeza, Melinda devolve a pergunta: "e não são as mesmas lágrimas?"(...)

"A vida pode ser uma tragédia ou uma comédia, depende de como se olha para ela"(...)

Clichê.

Eu sei.

Eu agora, a Melinda tragicamente levada pela comédia da vida, que me olha, dá um sorriso de canto e continua, por caminhos mais excitantes, de cores berrantes que , pelo menos agora, numa covardia explicita, bombardeariam o meu ar cinzento de puro marasmo.

Cômico.

Cômico por ser indesejável. Ou cômico por pura cegueira minha aliada as minhas cansadas pernas e meu coração adepto ao ignorantismo.

Trágico.

Minha vida, por fim, por hora, não merece citações. O filme sim. Recomendo.

Boneca de Porcelana Colada


Quando eu era criança, ainda existiam umas novelinhas "das 10", horário impróprio para a gurizada. Mas eu assistia, né? Mamãe se rendia ao cansaço, tinha que que acordar cedinho para a labuta.

Já nessa época, percebia que as cenas impróprias para menores e bem menores como eu, logicamente, me causavam umas coceirinhas nas partes baixas. Bobinha eu, achava que era algum tipo de incontinência urinária. Quer dizer, eu nem sabia o que era incontinência naquela época, mas hoje eu sei que era isso mesmo o que eu pensava mesmo sem o saber. Acho que tinha uns 6 ou 7.

Nessa época também, numas dessas datas criadas sabe-se lá Deus por quem, eu ganhava de tempos em tempos uma boneca, insistência e fé cega de minha mãe que certamente alimentava a idéia de me transformar numa garotinha meiga e dada a brincadeirinhas cor-de-rosa.

Nunca gostei muito de bonecas.

Até perceber que elas poderiam ser úteis, quando as cenas das novelas das 10, hoje das 8, passaram a ser mamão com açucar demais, para os meus anceios, que então já eram conscientes. E melhor, eu poderia sentir conceirinhas no café da manhã, no almoço ou no jantar. Ou assistindo atentamente à missa que passava de manhã, aos domingos. Eu nunca gostei de bonecas. De repente, gostava.







they are killing me softly

 
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